Guerra


Texto da Revista Next (2003) trimestral promovida pela Sviluppo Italia e catedra de Sociologia do Trabalho, Universidade de Roma La Sapienza, da S3 Studium, da Formez (centro de formação e estudos).

Por Domenico De Masi

Apesar do cru realismo, através testemunhos televisivos, somos habituados a pensar no oriente mais como categoria abstrata de um espírito do que como um local concreto da geografia.
As palavras-chaves deste universo são ainda àquelas sugeridas por Mil e uma noites pela flexível Sherazade, do fabuloso Simbad, O Marujo: mistério, langor, sensualidade, profeta, califa, deserto, oásis, frescura, paraíso.
Mesma coisa pela guerra. Por quase sessenta anos a Itália não tem combatido. A maioria da população, portanto conhece a guerra pelo cinema e televisão, com toda abstração e o distanciamento, que estes meios consentem. A palavra-chave, desta vez, sugeridas por Spielberg e Francis Coppola: heroísmo, tecnologia, selva, torturas, roleta russa, bandeira, rambo, serviço secreto, mortes, liberdade, opressões.
Logo, a guerra no Iraque no imaginário coletivo, para transformar-se em qualquer coisa de concreto teve combate sobre uma dupla cortina de abstrações.
De resto, muitos pensaram até o último momento, que em 2003 a guerra tivesse sido uma ameaça, uma parafernália de outros tempos, definitivamente arquivado a favor da civil escaramuça dialética, regulada pelas etiquetas diplomáticas, por concessões internacionais.
A guerra existe e muitos homens, ainda ficam selvagens. A sabedoria pode sucumbir a respeito da ignorância e os princípios ficam àqueles descritos por Machiavel:
“Um príncipe não deve ter outro objetivo, nem outro pensamento, nem outro fundamental dever, senão aquele de preparar-se para guerra. Esta é a única tarefa condizente verdadeiramente a quem comanda.
Contudo, sabemos que os princípios, quando pensamos mais aos refinamentos que às armas, perdem o estado, os quais detinham.
Perdem o estado sobre tudo se negligenciar as armas militares.
Conquistarás se te tornares especialista".
Muitos, após sessenta anos de não guerra, pensando que as pombas e as gazelas tivessem triunfado para sempre sobre falcões e leões, sentiram-se protegidos pelo branco lençol de Gandhi: A não violência é a lei da nossa espécie, assim como a violência é a lei das bestas. O espírito mentiroso que jaz adormentado na besta, que não reconhece outra lei, se não aquela da força física.
A dignidade do ser humano requer obediência a uma lei mais elevada: a força do espírito.
Depois, o oriente se tingiu de sangue, saindo a golpe da fábula, transformando-se tristemente concreto.
E o ocidente se tingiu de negro saindo a golpe de guerra, adentrando a caverna.
A guerra que nestes dias cancelou as relíquias do nosso berço mesopotâmico e não tem mais nada em comum com a guerra das arábias ou da pérsia, iluminado nos antigos relatos dos marinheiros e  emirados. As crueldades atestadas dos antigos imaginários, que transportamos nestes desenhos a cores revelam uma crueldade pueril perante as imagens exibidas pelas reportagens televisivas e que tem revelado uma crueldade senil.
Tradução livre jornalista Flavia Wass

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/07/110729_libia_criancas_escola_pai.shtml 

Artigo original do autor em Artigos e Crônicas, no índice.



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