Conto: Filha de Vidraceiro



 Apenas uma menina  

Era uma vez uma menina e hoje há uma história e uma mulher. Pode ser que no meio da narrativa não seja uma vez, nem uma menina e muito menos mulher.
Uma sensação de nervoso. Aquilo que dá quando se espera por algo desejado. 
Antes de uma peça a ser apresentada ou um namorado.
Uma vontade de ir ao banheiro.........., mas ela não quer.
Prefere afundar-se nesta emoção e não interromper o curso da história. Esta que faz pegar uma caneta e falar de si. Do início do seu início.
Menina séria. Muito séria.........
Diziam-na bonita e de tanto falarem ela convenceu-se que não era bonita e sim, perfeitamente bonita. Nada fora do lugar. Ai dela se alguma coisa naquele ser mudasse. Cuidava ao extremo da sua aparência e era milimétricamente, vaidosa.
A palavra narcisismo sabia que existia de tanto ouvir falar. Até podia saber seu significado. 
O sentido ficava para depois porque o espelho era mais importante. Quinze anos para localização. Se caso, alguém ler ou será apenas para sua referência. Não, treze anos ou até dez.
Lembra bem daquela época.........
Os diários cumplices, antes de dormir e o descarregar das suas confidências dando vida e linha àquelas outras linhas e ao final sempre concluía, eram suas mais fiéis amigas.
Começou seu mundo e sua jaula, na primeira iniciativa, ilustrada por uma capa tracejada de um xadrez acinzentado.
Sentia-se muito bem, como se aquele quadrado xadrez fosse a solução, para os acontecimentos da época. 
Primeiro namorado, primeiro beijo e as intrigas com as amigas invejosas ou aquela "melhor amiga" tão adorada, nesta época.
Eis o que está.......Teve dez anos. Um namorado. Bonitinha. Linda para muitos. Fazia tudo bonitinho e era bem quietinha. 
Ou seria séria? 
Bom lembrar deste detalhe porque mais tarde vai talhar. Onze anos. Doze anos. Um diário. Outro namorado ex-primeiro beijo e tudo corria bem, afinal considerava-se feliz, pois perfeita ou perfeita, então feliz. Contraditóriamente séria. Até triste. Uma tristeza sempre esquecida pela idiota lógica.
Não tinha por que ser triste. 
Elogiada. 
Mimada por seus pais. 
Adorada por sua "beleza" e prometia muito, ainda.
Triste......pensava.......deveriam ser as "feias". 
Que seria delas? Sempre preocupava-se com isto.......
Surgia um sorriso nos lábios como que convencendo-se do não lugar para aquela reflexão sem sentido. 
Portanto, escondia com seu meio sorrir, este que a fazia lembrar de um incômodo contrariado ao contrair seu lábios e para completar um olhar para o nada.......
Será que esperava alguém para perguntar-lhe o por que daquela tristeza?
Não podia.........sabia. 
Era, não esqueçam.......apenas uma menina e não podia ter problemas e nem ser séria. Somente sorrir, divertir-se com besteiras chatas que incomodavam-na. 
Sem sentir prazer.....quase nenhum, à não ser quando magicamente esquecia de tudo e escorregava a caneta, segurada de forma inexperiente com seus longos dedos em uma mão esforçada em agarrar-se, em sua única alternativa.
Ela mesma nem chegava a esperar por alguém, afinal era apenas uma menina e tinha dez anos. 
Uma amiga iria rir. 
Ela não saberia elaborar nem verbalizar elaborando.......estes termos psíquicos das "altas rodas". Mais tarde encontrou um amigo. 
Ajudou-a nas tais "palavrinhas do famoso divã", por hora poltrona de couro grande e confortávelmente atraente a um falar profundamente insipiente. 
Tudo certinho á sua volta. No exterior. No espelho. 
As fotos eram explendidas. 
O olhar não adequava-se ao corpo  e sua cara......mas quem repararia em um simples soslaio. A menina dava ares de reparos........
Sempre atraída por olhares. 
Uma pessoinha, gostando tanto de "coisas", que somente os mais velhos poderiam falar. 
Ao mesmo tempo, que aceitava os "certos" e "errados", sentia no peito a dor do ter de calar o grito deste mal olhado. 
Gostava.......não gostava. Determinada....... 
É o que mais lembra. 
Continua a olhar e neste cruzar globo oculares......agarrava-se como à uma mão, para um constatar e afirmar: 
_ Eu sei! Eu posso.......
Insistia em apaixonar-se pelos doces olhares por mais incosciente e amargo, este sentimento é o que fazia mais sentido naquela criatura meninamente antenada e jamais encaraminholada, ao que muitos insistiam em tentar distorcer ou maldizer seu florecer.

Melhor Amiga 

Além de ser apaixonada por olhares especiais, amava o diferente. Vestia o que ninguém usava. Divertia-se com isto. Andava de um jeito e chamava atenção por ser, à recém tão unisitada. Frequentava um colégio que fora colocada , como todas as outras pessoinhas, por seus pais, que ao acaso (quando lembrava) tinha.
De um modo ou de outro, a maneira de mover-se com circular desenvoltura tranquila, podia sentir o quanto diferenciava-se das suas amigas. Sentia nos poros, na respiração e o tempo das palavras expressas era outro. Atraiu rapazes mais velhos. Com medo e uma satisfação amedrontada tentava disfarçar conservando aquele olhar de menina indefesa. Ao mesmo tempo, cheia de coragem. Pensava em como era feliz e tinha sorte. Não percebia o felizmente assustada ao carregar sua "feliz idade".
O primeiro beijo na grande febril primeira paixão frustrou a expectativa dos próximos acontecimentos. Aos treze anos, sétima série e naquela rotina escolástica, rígida, veloz, uma corrida alucinada em apreender, cumprir, comprimir e oprimir um brincar despreocupado. Odiava as "panelinhas" e nunca encaixava-se por completo. Uma perna de fora, um olhar contrariado e uma boca calada dizia tudo. A maior alegria transparecia ao incubir-se por recepcionar os alunos novos, mesmo sabendo dos dias contados, daquela fase momentânea, onde passado este deslocamento inicial, buscavam promoção nas seções de maior status.
A primeira paixão foi para o brejo. Mais uma fantasia que fizera. Entender?
Ao pé da letra impossível, deduziu: _ É assim mesmo e nem vou me grilar. Sabia existir um inconsciente. Ouvia dizer que esconder para debaixo do tapete, mais tarde dava muito trabalho ao tentar limpar.Vozes surgiriam do nada, sobrevoando e murmurando: _ Como é, não vai resolver esta primeira rejeição e por que aconteceu deste modo? Nunca entendeu este rapaz tão bonito. Inteligente. Todos o admiravam.. A menina debatendo-se contra a superioridade, abraçava seus ares e por mais que tentasse, não conseguia desvencilhar-se da companhia da sua melhor e fiel amiga: A FANTASIA.


Filha de Vidraceiro

Escrever algo para alguém sempre ficou longe do que a menina pensava estar dentro de suas possibilidades. A preguiça tomava conta da sua cabeça.
Quando em vez, escrevia uma carta “lindíssima”. Termos inventivos. Lindas frases composta de uma criatividade quase divina..... e aceitava a dádiva na sua gentil, doce e serena inocência. Nada ortodoxamente bem estruturado, ainda, pois evitava o bem estar, quem sabe? Foi saber mais adiante o quanto aliviava colocar mil linhas no papel. Lia e relia cem vezes. Evitando acreditar que aquilo fora escrito por ela.
O namorado, agora nos altos dos seus quinze anos, firme. Porém, não existia. Não que fosse um fantasma. Pensando bem...., até poderia ser considerado. Falavam todo dia.....pessoal, mental e telefonicamente. Certificavam-se de suas existências à nível fantasmagórico e principalmente para lembrarem serem namorados. Aqueles que brigam, choram, controlam-se e jamais se amam. Sexo faziam....
Voltava à escrita......a menina, sempre na tentativa de impressionar as pessoas que mais amava e menos importavam-se com ela. Muito fácil. Podia continuar com seus mistérios. O namorado nem aí e pouco queria saber daquela inteligente e complicada cabecinha. Lixava-se se tinha alguma posição, intenção ou ambição na vida. Ela chorava. Ele consolava. O pior era quando a menina dizia adeus à rigidez adulta precoce e soltava as amarras da moral pequena burguesa, então era doida da cabeça. Diferente demais. Anormalmente advertia: _ Seja comportada como todo mundo. Não queira chamar atenção. Não grita. Fale baixinho ou simplesmente, não fale.
Seguramente “feliz”, agarrava-se naquela situação sentindo-se o máximo para todos. Infelizmente insatisfeita com aquela menina chamada de mulher, pois já tinha um corpo gostosamente desenhado por rostos e caras, os quais odiava e crescia uma raiva, cada vez, que a elogiavam. Subia o sangue e ela corria para o primeiro sinal de reflexo da sua pretensazinha......não sabia ao certo o que e quem se auto denominar.
Podia ser um vidro de automóvel. Uma vitrine de loja. Um espelho encontrado, graças a Deus, por acaso. Vitrines com roupas belíssimas da moda. Todos queriam e almejavam. A menina? Não. Procurava o mais diverso reafirmando um ser único, forte e invencível. Talvez.....não fosse bem isto. As roupas nem sempre ou quase nunca as enxergava.
Pensava ser filha de vidraceiro. Não por parar grande parte na frente das pessoas e obstruir caminhos. Um insegurança inconsciente e cega de ser passada para traz. Pensa: à traz de quem ou na frente de quem. De quem tinha tanto medo?
Das vizinhas.
Uma na frente de onde se escondia. Outra a traz. E mais outras duas dos  lados e por coincidência todas elas tinham o mesmo nome e somente hoje, depois da tempestade......tudo passou, descobriu que não era uma coincidência e sim uma assombração.
Há sim, ela ia esquecendo-se de dizer o nome ou os nomes das vizinhas.
Elas se chamavam SOMBRAS e seus sobrenomes: DE SI MESMAS.

 


continua.....

                                  

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