O pão nosso
https://www.youtube.com/watch?v=JCLoKrZbkxk
Resenha documentário Tradurre
Por Flavia Wass jornalista
O Pão nosso de cada dia!
É
necessário alimentar o fogo, organizar o ambiente, que a princípio começa de
modo artesanal e ambientado numa padaria, assim começa o documentário Tradurre. Um ritual, o qual não dispensa
a bela musica. A farinha, a água, a mistura. O trabalho em grupo ou solitário.
O fazer do dia a dia. Um silêncio monástico. Religioso! Tudo vai revelando-se
aos poucos, A atenção vai ficando cada vez mais apurada, pois os elementos
crescem e a vontade é de traduzir os mínimos detalhes. A luz, técnica,
produção, os atores apresentam-se num primor dignos de serem lentamente
traduzidos.
E aos poucos, paralelo a este
fazer o pão nosso de cada dia, surgem os tradutores exercendo o seu trabalho
igualmente recluso naquela paisagem das letras. – Tenho diante os meus olhos
uma página escrita e leio qualquer linha. Devo descobrir a palavra, fazer um
passeio pela palavra. As letras saltam da folha. O discurso se complica! Um carro, uma mesa,
um vestido ou um pedaço de pão. Devo esforçar-me e traduzir as coisas em
palavras. Ler fica difícil. – Permito-me
esta lentidão. Um verso somente ao dia. Uma palavra, um verso, um
vocábulo. É belo para mim este retorno
na palavra. Descobri-la! - Eu quando traduzo penso que estou dando voz a quem
normalmente não tem. Porque prefiro estar ao lado das minorias. Penso que
destruímos a percepção do mundo inteiro. – A preocupação moral que está por
trás de uma história. – Um tradutor
aspiraria ser um vidro. - Um duro trabalho depois parece natural. O tradutor
como um musicista, um bailarino, que se exercita, porque uma parte é o texto
que está traduzindo e outra que exige muita disciplina. – O que me fascina é a
possibilidade de ter este relacionamento intimo, corpo a corpo com o texto. E
da outra parte possibilitar que este texto se torne acessível. A gratidão de
ser um canal de transmissão. A profissão
do tradutor é bastante isolada. Uma escrivaninha, um texto e basta. Uma
atividade social que faz bem ao coração. – Vou andar e passear para ouvir os
rumores da língua.
Uma
dezena de depoimentos, que se alternavam com a bela paisagem e o preparar do pão
como um dos atos mais significativos da humanidade. Quem não quer o pão nosso
de cada dia? O sagrado alimento!
Enfim,
o debruçar, macerar, concentrar, aquecer de modo que o resultado seja
confortável para quem vai receber é a grande metáfora deste documentário. A
farinha, a água, o sal e eis que tudo tem o mesmo gosto? Absolutamente. Depende
do sal, do fermento, do tempo de cozimento, tipo de farinha. A mão. O humor. A
dedicação. A energia. O tempero é bem outro, magia e apuro!
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