Flashes Monitorando Acontecimentos


Terceiro dia, 14 de setembro 1999 e num belo sábado sentada naquele sofá, na sala do sociólogo Domenico De Masi e enquanto mostrava fotografias do meu filho Jivan e de meu companheiro e fotógrafo Bira à sua esposa Susi, entendi parte do trajeto, até ali. Conversávamos normalmente, mas minha mente emitia rasgos de flashes, os quais animavam-se informando o valor incomensurável de tudo que estava acontecendo. Aguardávamos o professor Domenico buscar o carro na garagem e eu conseguia ouvir, observar, falar e conversar em meio a enxurrada de imagens dos dias anteriores: chegar ao Fiumicino aeroporto, comprar o ticket do trem e fazer o trajeto até a estação Termini. Primeiras impressões, a brasileira Marina recém companheira de vôo, sua ajuda e dica de onde encontrar uma pensão, um pensionato só de moças atrás da via Nazionale, noite longa porque no outro dia estava marcada a visita à S3 Studium na Corso Emanulle do Centro Histórico de Roma, o acordar quatro horas da manhã com a montagem da feira livre abaixo da sua janela, em outra língua e outro País, o despertar confiante, novo enfrentando o espelho de cabeça erguida de quem ralou e estava pronta a recomeçar uma outra e importante etapa, o café da manhã, o primeiro ônibus, esforçando-se no Italiano e pronto, a chegada. A linha 62 parava na frente da escola, “palazio” 279, o acostumar com a imensidão e imponência das construções, assim como, o tamanho e peso das portas. O elevador antigo pequeno e sanfonado, o porteiro indicou o andar, a saída do elevador dava direto na porta e tinha uma campanhia anos 20, respirar fundo e apertar aquele botão, como que naquele gesto fosse o iniciar da máquina do tempo. Sim, dali em diante seriam cinco anos e este o tema mais irradiante, vibrante e quase atemporal. A secretária atendeu alegre, o aguardar na sala do professor Domenico, observar os afrescos acima da minha cabeça e lá veio ele, um senhor criança sorridente saltitante, a sua mão estendida ao encostar na minha desencadeou súbita empatia. As cadeiras de couro “frau” vermelha cúmplices da conversa poderiam intimidar desavisados destes formalismos, mas não quem tinha um propósito e sem sentir-me analisada lembro ter acomodado meu corpo que persistiu e pediu para estar naquela situação.Exalavamos somente uma profunda admiração mútua, eu por estar na frente de uma sumidade e ele pela minha coragem e ousadia de uma mulher e jovem jornalista querendo explorar uma estrada nova, abrir fronteiras inconcebíveis na cadeia de montagem máquina/homem e contra tudo e quase todos expandir seus horizontes.

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